Século XIX, uma história recuperada
Durante os meses em que produzi esta
reportagem, todas as escritoras negras com quem conversei eram poetas.
Foi então que, de imediato, surgiu outra dúvida: quem são e onde estão as prosadoras negras gaúchas? Elas
existem, porém são raras – não apenas no Rio Grande do Sul – e
praticamente desconhecidas do mecado editorial, da crítica e da
academia.
Daniela Santos da Silva, do Projeto
Aruanda, da Feevale, diz que não há como pensar a produção artística da
mulher negra sem considerar a sua trajetória histórica e as suas
condições de existência na sociedade atual. A herança escravocrata,
explica Daniela, é evidente no trabalho doméstico, especificamente: a
maioria das empregadas domésticas brasileiras são negras e, dentre essas
profissionais, a branca recebeu um salário quase 20% maior.
Além disso, Daniela esclarece que
grande parte das mulheres negras é chefe de família, que cuidam e
sustentam sozinhas os filhos. “Que condições tem esse sujeito de sentar e
produzir um romance? E quando consegue, como se inserir em um mercado
editorial majoritariamente masculino heterossexual branco de classe
média, tanto na concepção das obras legitimadas quanto no gerenciamento
das editoras? Difícil.”
Taiasmin Ohnmacht, psicóloga e
escritora, concorda com Daniela. “É um bom apontamento, mas talvez não
seja o único. O mundo dos romancistas é bem masculino, mesmo que a gente
tenha alguns nomes femininos”. Profissional liberal, Taiasmin trabalha
em seu consultório. Mãe de dois filhos e casada, diz que produzir não é
tarefa fácil. Acorda às 6h para escrever. “Sentar para escrever é uma
loucura. E olha que minha rotina de horários é super flexível. É uma
criança pedindo colo, é outra procurando algo que não encontra. Preciso
dizer ‘agora não, estou escrevendo’”.
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