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POR QUE NÃO CONHECEMOS AS ESCRITORAS NEGRAS GAÚCHAS?


Por Priscila Pasko || NONADA
http://www.nonada.com.br/2017/03/por-que-nao-conhecemos-as-escritoras-negras-gauchas/

Quem são as escritoras negras gaúchas? A pergunta foi feita durante meses por mim a dezenas de pessoas do circuito literário e acadêmico do Rio Grande do Sul. Como resposta, quase sempre, enxergava uma expressão reticente da interlocutora ou do interlocutor. Percebi com espanto – e certa dose de ingenuidade – que a pergunta correta a ser feita era por que não conhecemos as escritoras negras gaúchas?
 
Optei por fazer um recorte sucinto, buscando informações na tentativa de traçar um panorama das escritoras publicadas ou reconhecidas a partir dos anos 1980. Ainda que tenha sido a minha intenção inicial, não foi possível resgatar toda a trajetória das autoras negras do Estado. Justamente porque não encontrei especialistas que pudessem traçar um panorama da escrita das primeiras mulheres negras na história da literatura gaúcha. Contatei pessoas ligadas à área das Letras e da História, e os dados são quase inexistentes.

Foram inúmeras as consultas que fiz à mestre em História (Ufrgs) Camila Petró, que já pesquisou sobre a Academia Literária Feminina de Letras do Rio Grande do Sul (ALFRS). Ela diz que a dificuldade de se localizar escritoras negras diz respeito às fontes. Isso porque muitas dessas autoras não teriam condições de bancar uma publicação própria, como a maioria das acadêmicas da ALFRS. “Para buscar [informações sobre escritoras negras gaúchas], só indo muito a sebos e buscando por manuscritos, talvez. Não é sempre que encontramos uma Carolina [Maria] de Jesus [1914-1977] por aí, com livros publicados de maneira formal”, me fala Camila, explicando que outras fontes viáveis de consultas são revistas, jornais, “coisas soltas e esparsas”. 

É difícil encontrar até mesmo reportagens na internet a respeito das autoras negras gaúchas e as suas obras, o que certamente indica certo descaso ou desconhecimento da mídia e crítica. As informações que localizei constavam em blogs pessoais ou então naqueles pertencentes a movimentos negros.

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