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GÊNERO E LITERATURA GAÚCHA

Gênero e Literatura Gaúcha Elaine Santos UFSM A realização do presente trabalho tem como objetivo um rastreamento da representação feminina feita pela literatura produzida no Rio Grande do Sul, entretanto, a diretriz que orienta a consecução dessa atividade diz respeito aos estudos de gênero, entendido como uma representação da dualidade social do masculino/feminino que se altera conforme o tempo e a sociedade em que se manifesta. O trabalho não pretende ser nenhuma inovação nas discussões sobre gênero, mas busca inserir nessas discussões as representações que o ser feminino recebe da literatura dita gaúcha. O conceito de gênero é bastante recente e ainda suscita controvérsias. Guacira Lopes Louro, no artigo Nas redes do conceito de gênero, tece algumas considerações relevantes: Nos últimos anos, vimos notando uma referência crescente a ...
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CONSIDERAÇÕES POR TAIASMIN OHNMACHT

https://soundcloud.com/nonada-3/consideracoes-por-taiasmin-ohnmacht Por Priscila Pasko A autora criou a sua primeira poesia aos dez anos de idade. Mas foi quando Taiasmin começou a se interessar de fato pela escrita literária que ela optou pela prosa. “Eu não produzo poesia para ser literatura. Por outro lado, eu faço esta busca na prosa”, diz. Em 2012, Taiasmin publicou três contos em uma coletânea, resultado de uma oficina literária com o escritor Alcy Cheuiche. Em 2016, em parceria com Carlos Alberto Soares, lançou o livro Ela conta, ele canta (Cidadela, 2016), no qual ela escreveu contos, e Soares, os poemas. No momento, Taiasmin está trabalhando no projeto de seu primeiro romance. Foi a poeta e professora Ana dos Santos quem me apresentou algumas prosadoras negras gaúchas – resultado de uma pesquisa empírica e intensa que ela fez. Uma delas é Maria Helena Vargas da Silveira (1940-2009), romancista, contista, cronista e poeta, natural da cidade de Pelotas, ...

POR ONDE ANDA A PROSA NEGRA GAÚCHA?

Século XIX, uma história recuperada Durante os meses em que produzi esta reportagem, todas as escritoras negras com quem conversei eram poetas. Foi então que, de imediato, surgiu outra dúvida: quem são e onde estão as prosadoras negras gaúchas? Elas existem, porém são raras – não apenas no Rio Grande do Sul – e praticamente desconhecidas do mecado editorial, da crítica e da academia. Daniela Santos da Silva, do Projeto Aruanda, da Feevale, diz que não há como pensar a produção artística da mulher negra sem considerar a sua trajetória histórica e as suas condições de existência na sociedade atual. A herança escravocrata, explica Daniela, é evidente no trabalho doméstico, especificamente: a maioria das empregadas domésticas brasileiras são negras e, dentre essas profissionais, a branca recebeu um salário quase 20%  maior. Além disso, Daniela esclarece que grande parte das mulheres negras é chefe de família, que cuidam e sustentam sozinhas os filhos. “Qu...

AS PORTAS TOMBADAS DA ACADEMIAS

‘Cicatrizes da Escravidão” e “Reinterpretando Silêncios”, livros publicados por Olga Pereira Bem se sabe que, durante séculos, a literatura foi um espaço de tradição e dominação masculina, reflexos que são sentidos até hoje. No caso da mulher negra, além do gênero, ela enfrenta outro preconceito, o de raça e, por vezes, o de classe. Faz sentido, portanto, que tal contexto influencie diretamente na produção literária de mulheres negras, não apenas no Rio Grande do Sul, como no Brasil inteiro. A escritora, pesquisadora e coordenadora de fomento às Ações Inclusivas do IFSUl (Instituto Federal Sul-Rio-Grandense/Pelotas), Olga Pereira, explica que o período escravagista no Brasil “proliferou o vírus perverso” da depreciação do negro e de sua intelectualidade. Com quatro livros publicados, entre eles Cicatrizes da escravidão: da história ao silenciamento (Um2, 2015) e Reinterpretando silêncios: reflexões sobre a docência negra na cidade de Pelotas , ( Nandyala, 2015 ), Ol...

"OS MENINOS ENGRAXATES": A FALA DA POETA PROFESSORA ANA DOS SANTOS

Poeta Ana dos Santos Para a poeta e professora de Literatura Brasileira na rede pública estadual Ana dos Santo s , ainda se faz necessário ressaltar a cor de quem escreve. “Se tu olhares o cânone literário, vais enxergar apenas escritoras brancas. A Clarice Lispector é escritora, mas a Veralinda Menezes é uma escritora negra ”, fala Ana. “Eu preciso dizer que ela é negra porque esta palavra sempre foi ligada a uma questão negativa, pejorativa que a gente precisa ressignificar, trocar de lugar”. Conforme a professora, a cor precisa ser enfatizada “para que um dia ela não precise mais ser usada e que se possa dizer ‘Veralinda é uma escritora brasileira’”. Entre os concursos nos quais Ana foi premiada como poeta, está o Ministério da Poesia – World Art Friends (Porto, Portugal), onde estreou o seu primeiro livro, Flor (2009). Ela também participou de diversas antologias – a mais recente delas é Sopapo Poético: pretessência (Libretos, 2016). https://soundcloud.c...

QUE ESCRITA É ESSA?

Poeta, Eliane Marques venceu o prêmio Açorianos de Literatura da categoria com o livro ‘e se alguém o pano ’ (Foto: Lidiane Bach/Nonada) Por Priscila Pasko   Quando perguntei à poeta Eliane Marques sobre a produção das escritoras negras gaúchas, ela me devolveu outros questionamentos, como “o que os complementos mulher e negra acrescentam à poesia? Para que os textos sejam aceitos é necessário este acréscimo? Será que nós estamos sendo lidas ou procuradas por uma curiosidade e não por um valor que poderíamos acrescentar e trazer à literatura?”. Essas foram as reflexões lançadas por Eliane, vencedora na categoria Poesia do Prêmio Açorianos de Literatura 2016 (RS), com o livro e se alguém o pano   (Escola de poesia, 2016). A poeta lembra que, normalmente, é dito que a poesia negra cobra os direitos de seu povo e o pagamento de uma dívida histórica em relação à escravidão. “Mas poesia negra não é só isso. Existem outras que não são contestatórias ...

"POESIA NEGRA" PELA POETA LILIAN SANTOS

Poeta gaúcha Lilian Rocha Por Priscila Pasko Fotos: Maia Rubim e Lidiane Bach A poeta Lilian Rocha foi a primeira entrevistada com quem me encontrei. Ela pontuou que existem, sim, muitas mulheres negras escrevendo, no entanto, um dos motivos de parte delas não publicar está no bolso. “A questão da publicação – não só das mulheres negras, mas principalmente – delibera dinheiro, o que muitas vezes essas escritoras não possuem”, explica. Sendo assim, a divulgação do trabalho das poetas concentra-se na oralidade, ou seja, em espaços culturais e em eventos nos quais as mulheres negras produzem. “A maioria não tem nada publicado. Guarda em seu caderninho, em sua agenda, exibe em clubes sociais negros”, comenta Lilian, que participa ativamente do Sopapo Poético - Ponto Negro da Poesia, sarau promovido mensalmente em Porto Alegre. Além de integrar diversas antologias, Lilian publicou A vida pulsa (Editora Alternativa, 2013) e Negra Soul (Editora Alternativa, 2016). ...